Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), cerca de 54% da população brasileira se diz preta ou parda. Representando mais do que a metade da população nacional, a sociedade brasileira ainda é marcada pelo racismo, a desigualdade e a intolerância que culminaram de anos de uma cultura reprimida.
Não faz muito tempo que o Dia da Consciência Negra passou a habitar os calendários brasileiros. Foi somente em 2011, a partir da Lei nº 12.519, que a data passou a ser reservada para valorizar a presença dos negros na sociedade brasileira, assim como celebrar o fim da escravidão no Brasil.
A data escolhida (20 de novembro), faz referência ao dia da morte de um dos quilombos mais conhecidos da história brasileira: Zumbi dos Palmares. Zumbi – alagoense e filho de africanos escravos – consolidou-se na história do país ao lutar pelos direitos dos negros ao ser resistência à escravatura da época.
Mas porque ainda é necessário um dia para celebrar e priorizar a Consciência Negra? A resposta a essa pergunta pode ser respondida através de dados. Segundo o Atlas da Violência de 2019 – elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública –, o perfil de vítima de homicídio é um homem jovem solteiro e negro. Segundo a pesquisa, esse indivíduo possuía a maior probabilidade de morte violenta intencional no Brasil.
Segundo a mesma fonte, de 2007 a 2017, a desigualdade de raça/cor nas mortes violentas acentuou-se no país. A taxa de negros vítimas de homicídio cresceu em 33,1%, enquanto a de não negros apresentou um aumento de 3,3%. Esse número é ainda mais alarmante se olhado de modo geral: em 2017, 75,5% das vítimas de homicídio eram pretas ou pardas.
Ainda no âmbito de violência, as mulheres negras também sofrem pela cor da pele. Ainda segundo o Atlas da Violência de 2019, a taxa de homicídio de mulheres não negras teve um crescimento de 4,5% entre 2007 e 2017, enquanto o das negras cresceu 29,9%. Em números absolutos a diferença é ainda mais brutal, já que entre não negras o crescimento é de 1,7% e entre mulheres negras de 60,5%.

Também é indicador dessa desigualdade o desemprego: a PNAD Contínua do 3º trimestre de 2018 registrou um desemprego mais alto entre pardos (13,8%) e pretos (14,6%) do que na média da população (11,9%).
Mas a violência e economia não são as únicas perdas que a comunidade negra colhe em razão do racismo: sua representatividade também é afetada. Apesar de notar-se uma melhora nos últimos 5 anos, ainda assim há pouca presença de autores, personagens e da cultura quilombola em obras cinematográficas e literárias. Na literatura são apenas 10% dos livros publicados entre 1965 e 2014 que têm negros como autores[1]. Para os personagens o mesmo se aplica: 60% do protagonismo literário entre este período era masculino e 80% branco.
No cinema, o cenário se repete: apenas 2% dos diretores de filmes nacionais são negros. A preferência racial se reitera entre os roteiristas: só 4% são negros.
Segundo levantamento feito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), das produções brasileiras com mais destaque de bilheteria entre 2002 e 2014, 31% tinha atores negros no elenco; a maioria interpretando papeis associados à pobreza e criminalidade.
[1] Pesquisa da Universidade de Brasília (UnB)